25.4.06

Caracu || Rodeo e cervejão

Encontro muitas vezes, nas minhas andanças, cervejas más. Creio que, ao longo de um ano de crónicas, ainda não mencionei nenhuma delas, o que se explica facilmente: com tantas cervejas boas espalhadas pelo atlas, não há razão para começar pelas que caíram no saco das reprovadas. Muitas vezes, são más por causa da água que fornece as suas cubas; ou pela sua alta fermentação; ou pela sua baixa fermentação; ou pelo excesso de levedura que não filtrou; ou porque – vamos lá – me sabe mal. É certo que, para a apreciação da cerveja, não contam apenas as suas características orgânicas, o seu sabor a frio; há outros factores. Só assim se explica que eu goste de algumas cervejas absolutamente medianas, mas que evocam uma paisagem, um destino, uma hora, uma conversa que de alguma maneira está associada ao gesto de abrir uma garrafa gelada (ou não…) e de provar o líquido. Passeando pelo globo, ao acaso, encontram-se revelações e deparamos com desilusões. É a vida.
O caracu é uma raça bovina brasileira. Os criadores de gado locais identificam o caracu com o chamado «gado quatrocentão», trazido pelos portugueses, muito rústico e capaz de esforços brutais. O gado caracu, ao que me explicaram, serve para «carregar carga e puxar arado», não tendo proximidade com a raça nelore, que os carnívoros apreciam devidamente e fazem rodar no prato. Pois em 1899 apareceu uma cerveja com essas características e com esse nome, Caracu: para puxar arado e carregar peso. Há alguns anos (em 1996, e com a ajuda do actor José Wilker, que lhe deu a voz) foi rejuvenescida, mas mantém o essencial do seu aspecto rústico – cerveja escura, amarga, com poeiras de levedura, muito «alimentícia». Tendencialmente stout, portanto, se não fosse uma certa timidez na espessura, o que, aliado à sua dança com o caramelo, lhe empresta um tom doce que seria dispensável. Cai muito bem no copo e não recomendo que se beba directamente da garrafa: convém misturá-la antes de a beber. A sua espuma é volátil (outro defeito) mas muito branquinha. Os brasileiros do interior, sobretudo da zona do centro-oeste e do sudoeste, habituados ao rodeo, ao churrasco e aos duos sertanejos, dizem que ela dá pique. Esperam que compreendam o que isso significa. Não a misturem com pó de guaraná. Ela, por si só, já é pique suficiente. Deus nos livre, se posso exprimir-me assim.

+MARCA: Caracu
Origem: Brasil
Álcool: 5,3
Avaliação: **