25.4.06

Devassa Tropical Lager || Frescura sem frescura

Há cervejas brasileiras que me comovem. A Bohemia, a Cerpa, alguma Kaiser (sobretudo o chope da Kaiser tirado no Liliput, de Porto Alegre, em dois barris comunicantes), alguma Skol. Bebo-as sem pensar no destino da humanidade e sem outra evocação que não seja a de beber uma cerveja longe do compromisso de as beber: a maior parte delas requer uma boa dose de irresponsabilidade e de rapidez. É aquele tipo de cerveja sobre o qual reflectimos o suficiente para a aceitarmos como ela é. Não temos de dizer “oh não, hoje comi salada com demasiada cebola, não vai dar”, ou “tenho de pedir um queijo seco, oloroso, salgado, para acompanhar”. A maior parte delas, sendo apreciável, não deixa um travo amargo carregado de lúpulos de qualidade; tirando a Cerpa e a Bohemia, a maior parte das loiras brasileiras (refiro-me às cervejas, evidentemente) é agradável ao paladar (porque não o fere) e suave na boca (porque não sabe agredir e, na verdade, são bem construídas com muito poucas excepções). A Devassa Tropical Lager é, não duvido, a melhor lager de grande distribuição. Tem aquele tom amargo final, próprio das pilsener. Seca, com um levíssimo sinal da presença de frutos acidulados, a devassa loirinha merece encómios. Em chope, a espuma é mais cremosa, evidentemente, mas em garrafa não perde o essencial da sua coroa consistente e perdurável, protegendo o corpo leve e ondulante de uma musa caminhando pela Gávea em certas horas do entardecer. Podia falar da Lagoa, claro, da Lagoa Rodrigues de Freitas, e uma certa esplanada onde a bebi também, porque as cervejas ou nos fazem sonhar e desaparecer do mundo dos comuns mortais, ou não vale a pena insistir. Ela é devassa. Tem aquela frescura intensa e comovente – mas, para o idioma do Brasil, não tem frescura, se me entendem. É bem feita. Bem torneada.

+MARCA: Devassa Tropical Lager
Origem: Brasil
Álcool: 4,8%
Avaliação: ***