Regresso à pátria depois de uma viagem pelo sul do mundo, e encontro-a cheia de novidades; não me refiro ao futebol, à política ou à meteorologia. Falo da cerveja. Tinham-me já escapado a viseense Tagus Magna, uma dunkel que não me arrependo de gabar, e a madeirense Coral Tónica, uma aproximação ligeira à dunkel. Mas eu não queria que me fugisse a Bohemia, a nova experiência da Sagres. O leitor já sabe que essas cervejas avermelhadas me caem no goto. Aliás, caem bem sobretudo no estômago (já aqui mencionei a Murphy’s Red), são ligeiramente digestivas, afrutadas e, quando servidas de acordo com as regras, a sua espuma flutua como os pássaros num poema de Yeats. A imagem é exagerada, mas é para que o leitor compreenda. É preciso dizer, antes de mais, que não se deve beber uma red do mesmo modo como se bebe uma lager simples. Há horas para tudo. Com certeza, a Bohemia não é a cerveja indicada para refeições substanciais, pois o seu açúcar pode confundir-nos o paladar – o aroma é intenso, solta-se em vagas que nos transportam até outras latitudes. Deve beber-se com concentração e desprendimento. A Bohemia cumpre as indicações (faltando-lhe aquele tom de manteiga que a fecharia mais um pouco) e seria uma pena que passasse despercebida; devemos felicitá-la pela cor e pelo aroma, que tem um final muito apreciável, que evoca maçã e frutos em maturação. Ao servi-la, atenção!, provoque-lhe uma espuma substancial. E já sabeis, leitores, qual é a minha divisa nessas circunstâncias: «Vinde a mim, ruivas!» Já é obsessão.
+MARCA: Sagres Bohemia
Origem: Portugal
Álcool: 5,6%
Avaliação: **